A colonização do Brasil, iniciada
em 1530 com a expedição de Martim Afonso de Souza, não foi uma tarefa fácil. Em
1532, Martim Afonso fundou São Vicente, a primeira vila brasileira. No entanto,
um único núcleo de povoamento na imensidade da costa não resolvia os problemas
causados por navios franceses que vinham buscar pau-brasil. Era necessário
povoar rapidamente a região costeira, mas a Coroa portuguesa não dispunha na
época de recursos humanos nem econômicos para colonizar, em curto prazo, o
litoral brasileiro. Por isso, a partir de 1534, o governo português resolveu
iniciar no Brasil um processo de colonização que já havia sido aplicado, com
muito sucesso, na ilha da Madeira e nos Açores: a divisão da terra em
capitanias. Dessa forma, a Coroa portuguesa pretendia ocupar o território
brasileiro e torná-lo uma fonte de lucros. As capitanias eram imensos lotes de
terra que se estendiam, na direção dos paralelos, do litoral até o limite
estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas. Esses lotes foram doados em caráter
vitalício e hereditário a elementos pertencentes à pequena nobreza lusitana. Os
donatários tinham de explorar com seus próprios recursos as capitanias
recebidas. Ao doar as capitanias, a Coroa portuguesa abria mão de certos
direitos e vantagens, em favor dos donatários, esperando com isso despertar seu
interesse pelas terras recebidas.
A Carta de
Doação e o Foral garantiam os direitos do capitão donatário.
* Pertenciam-lhe todas as salinas, moendas
de água e quaisquer outros engenhos da capitania.
* Podia escravizar índios em número
indeterminado, mas devia enviar 39 para Lisboa, anualmente.
* Ficava com a vigésima parte da renda do
pau-brasil.
* Podia criar vilas, administrar a justiça
e doar sesmarias, menos para a esposa, para o filho mais velho e para judeus e
estrangeiros. Sesmaria era uma extensão de terra que o donatário doava a quem
se dispusesse a cultivá-la. Ao contrário da capitania, da qual o donatário não
tinha a propriedade (mas apenas o uso), a sesmaria era propriedade do sesmeiro,
após dois anos de real utilização.
O rei reservava para si algumas
vantagens que, na verdade, lhe garantiam os melhores proveitos que a terra
poderia oferecer:
·
Dez por cento
de todos os produtos da terra;
·
Vinte por
cento (um quinto) das pedras e metais preciosos;
·
Monopólio
do pau-brasil, das drogas e das especiarias.
No Brasil, o sistema de divisão da
terra em capitanias não deu bons resultados. A grande extensão dos lotes talvez
a principal razão do insucesso. Sem recursos suficientes, os donatários só
conseguiam fundar estabelecimentos precários na região costeira dos lotes que
recebiam; não tinham condições de tentar a colonização do interior. A enorme
distância que separava as capitanias da metrópole, de onde vinham os recursos
necessários para a sobrevivência dos núcleos iniciais, dificultava ainda mais a
colonização. As capitanias de São
Vicente e de Pernambuco, apresentaram resultados melhores do que as outras. O
sucesso dessas capitanias se deveu ao êxito da cultura canavieira e da criação
de gado. Com o passar do tempo, as capitanias foram revertendo ao governo
português. No século XVIII, quando Portugal era governado pelo Marquês de
Pombal, o sistema foi totalmente extinto. Os limites das capitanias sofreram
modificações, mas determinaram os contornos gerais das províncias do Império
que se limitavam com o Atlântico; estas, por sua vez, deram origem aos Estados
litorâneos do Brasil atual. Os estados do interior tiveram origem diferente.
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