A Europa começou inicialmente por ser um termo geográfico,
com origem nos antigos gregos. Estes consideravam que o mundo tinha a forma de
uma esfera, sendo que as massas de terra deveriam estar dispostas de forma
simétrica. Assim conceberam inicialmente duas grandes massas: para oriente da
Grécia ficava a Ásia – que significa a terra do sol nascente – enquanto que
para o ocidente ficava a Europa – a terra do sol poente. A Líbia (África) – a
terra do vento de sudoeste, o chuvoso – foi mais tarde acrescentada,
inicialmente unida à Ásia, por se julgar que esta tinha uma extensão inferior à
Europa, permitindo assim que as duas grandes massas se equilibrassem. E assim
nasceu a Europa. Durante muito tempo, a Europa foi apenas um termo geográfico
tanto para os gregos como para os romanos. As civilizações destes dois povos
que tanto viriam a influenciar a civilização europeia, estavam centradas no
Mediterrâneo, sendo a Europa apenas uma das suas margens. O grande
acontecimento que viria a individualizar a Europa foi a invasão muçulmana das
terras mediterrânicas no século VII. Desde o século IV que o mundo
mediterrânico se tinha tornado o espaço da cristandade com a conversão do
império romano a esta religião. No entanto, esta unidade foi destruída com a
conquista e absorção da margem africana e asiática do Mediterrâneo pelo Islão.
Somente no espaço europeu, a cristandade conseguiu resistir. Mais, não só
resistiu como ainda conseguiu, nos séculos seguintes, converter e integrar no
seu espaço os povos pagãos germânicos e eslavos que viviam no norte do
continente. Desta forma, o espaço geográfico da Europa passou a coincidir,
grosso modo, com o espaço cultural da cristandade, tendo esta gerado uma
influência profunda em todos os povos integrados nesse espaço. Note-se, no
entanto, que todo esse espaço cultural era designado pelos seus habitantes de Cristandade
e nunca por Europa. A palavra Europa vai começar a ter um uso mais comum a
partir do século XVI. Na perspectiva de Lucien Febvre, tal deve-se a dois
fenómenos. Um, foi a descoberta da América, vista como uma nova parte do mundo,
algo que levou a uma maior valorização da noção geográfica de Europa por forma
a melhor contrastar o Velho Mundo com o Novo Mundo. Outro fenómeno, foi a
Reforma Protestante que levou a uma cisão na Cristandade Ocidental, com
Protestantes e Católicos a designarem-se como os verdadeiros cristãos. Assim,
na impossibilidade de designar o todo por Cristandade, foi retomado com mais
força o termo pré-cristão de Europa para designar todos esses grupos. A partir
do século XVIII, o termo Europa adquiriu um novo significado: passou a ser
vista por alguns homens cultos europeus como a sua pátria comum, procurando-se
dessa forma transcender as divisões religiosas e políticas existentes no
continente. Em comum, ligava-os a cultura laica do Iluminismo. Estes homens,
tinham um importante ascendente sobre os soberanos europeus e esperavam influencia-los
no sentido de se caminhar para uma Europa unificada. Procurava-se, assim,
refazer a antiga unidade cristã, mas desta vez com base em valores seculares e
não religiosos. No entanto, este sonho encalhou nos escolhos dos nacionalismos
que emergiram em finais do século XVIII. Para os nacionalistas, a Europa, com a
sua tendência unificadora, passou a ser o adversário das nações e das suas
especificidades. Mas o velho sonho de unidade não desapareceu e a partir do
século XIX, com a consolidação das nações, passou a idealizar-se uma federação
de nações, sendo que a atual União Europeia é influenciada por tal ideia.
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